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O impacto do carnaval na vida marinha de Salvador



Em artigo publicado na revista Biological Conservation, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal da Bahia demonstraram como o som produzido durante o carnaval de Salvador (Circuito Barra-Ondina) pode afetar negativamente espécies marinhas que vivem nas águas próximas à capital baiana. Com o uso de câmeras de vídeo operadas remotamente e a gravação da intensidade do som tanto em ambientes aéreos quanto subaquáticos, o estudo analisou o comportamento dos peixes donzela (Stegastes fuscus), espécie abundante na região, antes, durante e depois do carnaval de 2018. As análises foram feitas em um recife perto do circuito e outro mais afastado, onde não havia barulho tão intenso.


De acordo com o estudo, apesar de o barulho provocado pelo carnaval não ter afastado os peixes do recife, ele fez com que os donzelinhas se alimentassem menos e ficassem menos atentos a predadores. Ainda de acordo com os autores do artigo, muitas espécies, particularmente territoriais, são incapazes ou não querem se mudar e, portanto, são forçados a tolerar um estressor com impactos potenciais para a sobrevivência. Muitas vezes, o som intenso induz a um comportamento de congelamento ou inatividade geral, o que também pode reduzir ainda mais a tendência para deslocamentos. Além disso, peixes em condições de ruído intenso podem não ser capazes de avaliar se está mais silencioso em outro lugar e em que direção eles precisariam nadar para escapar da exposição ao barulho


Sons gerados pelos humanos se espalharam por toda a biosfera, com ameaças que vão desde o bem-estar individual à toda saúde do ecossistema. Os sons são importantes para os animais tanto em ambientes terrestres quanto aquáticos e já foi demonstrado de diversas formas que eles têm efeitos prejudiciais. Apesar da transformação cada vez maior das terras costeiras por atividades humanas, os efeitos poluentes dos sons que se propagam da terra para as águas costeiras foram amplamente esquecidos.


A pesquisa mostra que o carnaval brasileiro de Salvador, que acontece anualmente ao longo da zona litorânea da cidade, produz níveis elevados de pressão sonora subaquática em mais de 30 dB acima do normal. Os efeitos comportamentais podem ser extremamente importantes para a aptidão individual e o impacto prejudicial da poluição sonora também podem se aplicar a outros peixes e espécies de invertebrados. A humanidade está reivindicando litorais em um ritmo mais rápido do que qualquer outro habitat e as preocupações com a conservação devem se estender aos ecossistemas costeiros próximos e os possíveis impactos de sons subaquáticos emanados da terra.







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