A poluição microplástica é onipresente no ambiente marinho e é ingerida por inúmeras espécies marinhas. Neste estudo, publicado nos Scientific reports da revista Nature, pesquisadores apresentaram evidências da ingestão de fibras microplásticas e outras fibras antropogênicas em quatro espécies de tubarões demersais encontradas nas águas do Reino Unido. Espécies demersais são animais que, apesar de terem capacidade de nadar ativamente, vivem associados ao substrato, seja ele arenoso, como os linguados; ou rochoso, como as garoupas.
Estômagos e tratos digestivos de 46 tubarões foram examinados e 67% das amostras continham pelo menos uma partícula contaminante. Um total de 379 partículas foram identificadas, levando a estimativas medianas variando de 2 a 7,5 contaminantes ingeridos por animal para as 4 espécies pesquisadas. A maioria era de natureza fibrosa (95%) e azul (88%) ou preta (9%) na cor.
Uma subamostra de contaminantes (N = 62) foi submetida à espectroscopia FT-IR e polímeros identificados como: celulose sintética (33,3%), polipropileno (25%), poliacrilamidas (10%) e poliéster (8,3%). O nível de risco apresentado às espécies de tubarões por esse nível de contaminação é desconhecido. No entanto, este estudo apresenta a primeira evidência empírica e uma importante linha de base para a ingestão de microplásticos e outras fibras antropogênicas em espécies nativas de tubarões do Reino Unido e destaca a natureza difundida desses poluentes.
Este foi o primeiro estudo comparativo detalhado da ingestão microplástica em quatro espécies de tubarões no Atlântico Nordeste: Scyliorhinus canicula, conhecido em alguns lugares como pata-roxa; Mustelus asteria, chamado popularmente de cação-pintado; Squalus acanthias, ou tubarão galhudo ; Scyliorhinus stellaris, chamado de tubarão-gato-enfermeiro. Essas espécies foram escolhidas devido à sua disponibilidade como captura por bycatch nas pescarias locais. Embora os pesquisadores reconheçam que o tamanho da amostra não é expressiva, eles constataram que a carga estimada de partículas aumentou com o tamanho do corpo, mas não variou sistematicamente com o sexo ou a espécie.
Elasmobrânquios demersais do Atlântico Nordeste
O Atlântico Nordeste abriga inúmeras espécies de tubarões e raias, incluindo tubarões demersais de pequeno a médio porte. Essas espécies podem ser encontradas em profundidades variadas de 5 a 900m, residindo na maioria das vezes em habitats bentônicos. Alimentam-se de uma grande variedade de pequenos peixes teleósteos, crustáceos e cefalópodes. Devido à sua escolha de habitat, muitas vezes são capturados na pesca como bycatch, no entanto, a pesca direcionada para essas espécies também existe.
Atualmente, a exposição de microplásticos a espécies demersais de tubarões em todo o mundo é pouco investigada, com apenas alguns relatos de ingestão de plásticos, principalmente situados dentro e ao redor do Mar Mediterrâneo.
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