Em artigo publicado na revista Marine Polution Bulletin, um grupo de pesquisadores canadenses identificaram partículas de microplástico no trato gastrointestinal de belugas (Delphinapterus leucas).
Microplásticos representam uma preocupação ambiental global cada vez maior, tendo sido detectados em várias espécies aquáticas. No entanto, pouco se sabe sobre a presença de microplásticos em espécies de nível trófico mais alto, incluindo cetáceos. Para realizar o estudo, pesquisadores trabalharam com monitores comunitários e caçadores de Tuktoyaktuk (Territórios do Noroeste do Canadá), na Ilha de Hendrikson, para amostrar sete belugas machos em 2017 e 2018.
Foram detectados microplásticos em todas as belugas amostradas. Mais de oito tipos de polímeros plásticos foram identificados e o poliéster foi o mais proeminente, representando 44% das partículas encontradas nos tratos gastrointestinais. A maioria (83%) dessas partículas de poliésteres eram fibras, um dos principais polímeros usados na produção de tecidos de microfibra. Para controlar possíveis contaminações, a equipe de amostragem vestiu fibras naturais quando possível e ainda coletou amostras das roupas que usavam.
Ao todo, foram identificados 350 partículas suspeitas de ser microplástico. Dessas, 81 (23%) foram confirmadas através de espectroscopia FTIR que eram mesmo plástico. Do restante (não plástico), 269 partículas, 55% foram confirmadas como semi-sintéticas (por exemplo, celulose modificada), 14% como natural (por exemplo, minerais, proteínas, conchas) e 7% de partículas não puderam ser identificadas por causa da fraca correspondência espectral devido ao intemperismo ou à bioincrustação
Investigar microplásticos em animais geralmente requer acesso a órgãos internos, portanto o animal deve estar morto. As restrições éticas, legais e logísticas inerentes à estudar microplásticos em cetáceos está na base da escassez de dados sobre este tópico. Os poucos estudos disponíveis dependem de acesso oportunista a baleias encalhadas mortas.
As beluga são cetáceos com dentes, onívoros e icônicos. São os odontocetos mais abundantes no Ártico canadense ocidental e representam uma importante fonte tradicional da dieta inuit. Todos os anos, belugas pertencentes ao Mar Oriental de Beaufort (EBS) são caçadas para subsistência pelas populações Iñupiat e Inuvialuit, comunidades ao longo da costa do norte do Alasca (EUA) e da costa do Ártico canadense ocidental, respectivamente. A caçada de subsistência de beluga na região de assentamento de Inuvialuit (ISR) proporcionou uma oportunidade inestimável para investigar esse contaminante em uma população saudável de cetáceos.
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