A conceituada revista científica Science publicou nesta quinta-feira, dia 30 de abril, uma carta na qual pesquisadores brasileiros criticam a política do governo federal, que prevê a criação de novos recifes artificiais. De acordo com a carta, essa política é uma ameaça a conservação da biodiversidade marinha brasileira.
Com a justificativa de fomentar o turismo náutico, o Ministério do Turismo está articulando a instalação de até 1.200 estruturas artificiais ao longo da costa, incluindo navios, tanques, aviões e trens. De acordo com as informações divulgadas pelo governo, essas estruturas serão distribuídas por sete estados na costa (PB, PE, AL, BA, RJ, SP e SC) além do Distrito Federal, com algumas previstas em unidades de conservação como a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais e o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, no nordeste do Brasil, com importância ecológica e social mundialmente reconhecidas.
Os pesquisadores afirmam que essa política governamental favorecerá a ocorrência de espécies conhecidas como “invasoras”, ou seja, espécies estrangeiras trazidas de outras regiões, que ao colonizarem o local, antes ocupado apenas por espécies nativas, podem se multiplicar e causar um série de problemas ambientais, sociais e econômicos.
As invasões biológicas são uma das principais causas de perda de biodiversidade e degradação de ecossistemas naturais no mundo todo. Segundo a carta, esses novos recifes artificiais irão favorecer a expansão de espécies invasoras que ameaçam a conservação dos recifes de corais e a economia brasileira como o “coral-sol” (Tubastraea spp.) . Esse coral invasor já causou uma série de impactos ambientais no Brasil, como a morte de corais nativos, alterações nos processos do ecossistema, além de prejuízos no setor petrolífero. Os autores citam pesquisas que demonstram que o coral- sol pode colonizar rapidamente estruturas artificiais como naufrágios e, em seguida, colonizarem os recifes de corais próximos, onde competem e eliminam os corais nativos.
Esse plano do governo não está baseado em estudos prévios de viabilidade dos locais para implantação desses naufrágios, no que se refere a vulnerabilidade da biodiversidade marinha, as características socioculturais das comunidades tradicionais ou a ocorrência de unidades de conservação. Portanto, vai de encontro aos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente e as recomendações internacionais da Convenção Sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas sobre o combate e redução dos impactos causado por espécies invasoras.
Como alternativa para esse plano os autores sugerem:
1- um projeto de valorização de naufrágios históricos já existentes;
2- um melhor uso dos recifes naturais para o mergulho recreativo;
3- o monitoramento e manejo dos recifes brasileiros.
Fonte: Miranda RJ, Nunes JACC, Creed JC, Barros F, Macieira RM, Santos RG, Lima GV, Pontes AVF, Silva LGFC, Cordeiro RT, Sampaio CLS, Pinto TK, Malhado ACM, Ladle R, Pereira PHC (2020) Brazil policy invites marine invasive species. Science, 368(6490):481.
Um documento assinado por 100 pessoas incluindo pesquisadores especialistas, gestores ambientais e sociedade civil ratifica a preocupação levantada pelos autores da carta publicada na Science
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